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, 09 de março de 2025.
02/11/2014
Neurociências
Hipotálamo

O hipotálamo

Henrique S. Ivamoto

                                            

Parte do diencéfalo, o hipotálamo está localizado nas paredes e no assoalho do terceiro ventrículo, abaixo do sulco hipotalâmico. É uma estrutura pequena, pesando apenas quatro gramas num homem adulto, mas com muitas e importantes funções integradoras. É constituído de diversos núcleos e fibras. Exerce diversas funções, como a regulação da temperatura corporal, do metabolismo, das manifestações afetivas, das atividades endócrinas, e outras. É a principal estrutura responsável pela manutenção da constância do meio interno. A seguir, suas as principais funções.

 

1) Regulação do sistema nervoso autônomo

O hipotálamo é o principal centro supra-segmentar controlador do sistema nervoso autônomo. Em sua parte anterior há uma área que controla as atividades parassimpáticas, e em sua parte posterior, uma área que controla as atividades simpáticas.

 

2) Regulação das manifestações viscerais do afeto

            Os núcleos mamilares do hipotálamo estão inseridos no circuito de Papez do sistema límbico. A partir desses núcleos, outras partes do hipotálamo, particularmente os núcleos simpáticos, são acionados para provocar as manifestações viscerais das emoções.

 

3) Regulação da temperatura corporal

            A temperatura retal normal no homem varia de 37 a 37,5 graus centígrados. A temperatura na axilar e a da pele exposta são inferiores, enquanto a temperatura interna, como a do fígado, é maior.

Há na parte anterior do hipotálamo um centro para perda de calor, que provoca perspiração, taquipnéia e vasodilatação tegumentar. Na parte posterior do hipotálamo há um centro para conservação de calor, que provoca tremores (calafrios), vasoconstricção tegumentar, piloerecção e estimulação da secreção do fator liberador de TSH. Lesões no centro para perda de calor provocam hipertermia que pode ser fatal. Há no hipotálamo áreas termoreceptoras que detectam a temperatura local.

            A destruição desses centros termoreguladores faz com que os mamíferos e as aves, seres homeotérmicos (isotérmicos, ou "de sangue quente"), tornem-se poiquilotérmicos (pecilotérmicos, heterotérmicos, ou "de sangue frio") como os répteis e os peixes.

 

4) Regulação do balanço hídrico.

            Quando a osmolaridade plasmática aumenta, os núcleos supraópticos e paraventriculares do hipotálamo secretam o hornônio antidiurético (ADH) ou vasopressina, que atinge o lobo posterior (neurohipófise) da hipófise e daí entram na circulação sangüínea, atingindo os rins.  Nos rins, o ADH estimula as células dos túbulos contornados distais do néfron e os túbulos coletores a reabsorverem de 14 a 18 litros de água por dia do filtrado glomerular, restando de uma produção de um a dois litros de urina em 24 horas.

            Quando há secreção deficiente de ADH, ocorre o diabete insípido, que pode ser parcial ou total, com fluxo urinário diário de dois a vinte litros.  Se o paciente tem acesso a água, mantém sua homeostase, e a densidade da urina é inferior a 1006 gramas por litro. Se o paciente não tiver acesso a água, ocorre desidratação, com taquicardia, mucosas secas, pele pastosa, hipotensão postural, dores musculares, aumento da osmolaridade plasmática, hipernatremia.

 

5) Regulação da secreção dos hormônios da adenohipófise

            O hipotálamo secreta diversos polipeptídeos que agem sobre a parte anterior da hipófise, a adenohipófise, fazendo com que esta secrete ou deixe de secretar seus hormônios, que penetram na circulação sangüínea e cheguem a outras glândulas, ossos, outros órgaos ou aos melanócitos.

Assim, o hipotálamo secreta o CRF (corticotropin-releasing fator, fator de liberação da corticotropina), o GRF (growth hormone-releasing factor), o GRI (growth hormone-inhibiting factor), o TRF (thyrotropin-releasing factor, fator de liberação da tireotropina), o LRF (lutheinizing hormone-releasing factor, fator de liberação do hormônio luteinizante), o FRF (follicle-stimulating hormone releasing factor, fator de liberação do hormônio folículo estimulante), o PIF (prolactin-inhibiting factor, fator de inibição da prolactina) e o MRF (melanocyte-stimulating hormone-releasing factor, fator de liberação do hormônio estimulante do melanocito).

            Esses fatores de liberação e de inibição, neurosecreções do hipotálamo, descem por fibras nervosas e são secretados, penetrando na circulação sangüínea de uma rede capilar primária, situada na eminência média do tuber cinéreo. Esse sangue drena para um sistema de veias situadas ao longo da haste da hipófise, e é levado para uma rede capilar secundária situada na adenohipófise. O sistema porta hipofisário é formado pelas duas redes capilares ligadas pela rede venosa. Assim, através da circulação sangüínea do sistema porta hipofisário, as neurosecreções chegam à adenohipófise ou parte anterior da glândula hipófise.

           

·         CRF faz com que a adenohipófise libere a corticotropina ou ACTH, que age sobre a cortical da glândula suprarenal estimulando a produção de cortisol.

·         GRF faz com que a adenohipófise libere o GH ou STH (growh hormone, hormônio somatotrófico, hormônio de crescimento). O GRI (growth hormone-inhibiting factor, fator de inibição do hormönio de crescimento) inibe a secreção de hormônio de crescimento. 

·         TRF faz com que a adenohipófise a liberar o TSH (thyrotropin stimulating factor) que estimula a tireóide a secretar a tiroxina.

·         LRF faz com que a adenohipófise secrete o LH ou ICSH (luteining hormone, hormônio luteinizante, na mulher e que é o mesmo que o interstitial-cell stimulating hormone, hormônio estimulante das células intersticiais, no homem). Na mulher, o hormônio luteinizante estimula os ovários a produzirem o corpo lúteo. No homem, o ICSH estimula as células intersticiais de Leydig dos testículos a produzirem a testosterona.

·         FRF faz com que a adenohipófise secrete o FSH (follicle-stimulating hormônio, hormônio folículo estimulante), que age sobre os testículos para a produção de testosterona e que age sobre os ovários para a produção de estrógeno.

·         PIF age sobre a adenohipófise inibindo a secreção de prolactina ou hormônio luteotrópico, que age sobre as mamas estimulando a lactação e sobre os ovários inibindo a ovulação. 

·         MRF age sobre a adenohipófise para a produção de MSH (melanocyte stimulating hormone), que age sobre os melanócitos da pele para a produção de melanina.

 

6) Regulação da fome

            Os núcleos ventromediais do hipotálamo funcionam como centros da saciedade e as áreas laterais do hipotálamo como centros da fome. Há glucoreceptores no hipotálamo. Lesões nos núcleos ventromediais provocam hiperfagia, e obesidade. Lesões nas áreas laterais provocam perda do apetite, anorexia e perda de peso. 

 

7) Regulação da sede.

            Há osmoreceptores, sensíveis a variaçõs da osmolaridade plasmática, que fazem com que certas regiões do hipotálamo provoquem a sede, estimulando a ingestão de água.    



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